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Mensagem por Bruno Sáb Jan 10, 2009 3:45 am

O

povo do Rio de Janeiro conhecendo que os interesses das Nações reunidos em um

centro comum de idéias sobre o bem Público devem ser os primeiros objetos da

vigilância daqueles, que estão revestidos do caráter de seus Representantes,

e de mais convencido de que nas circunstâncias atuais se constituiria responsável

para com as gerações futuras, se não manifestasse os seus sentimentos à

vista da medonha perspectiva que se oferece a seus olhos pela retirada de Sua

Alteza Real, se dirige com a última energia à presença de Vossa Senhoria,

como seu legítimo Representante, esperando que mereçam toda a sua consideração

os motivos, que neste se expõem, para se suspender a execução do Decreto das

Cortes sobre o regresso de Sua Alteza Real para a antiga Sede da Monarquia

Portuguesa.



O

Povo sempre fiel à causa comum da Nação, julga que não se desliza da sua

marcha representando os inconvenientes, que podem resultar de qualquer providência

expedida, quando ela encontre no local, em que deve ser executada, obstáculos a

esta idéia de prosperidade pública, que o Soberano Congresso anunciou

altamente à face da Europa, e que até o presente tem sido motivo de nossa

firme adesão aos princípios Constitucionais. Na crise atual o regresso de Sua

Alteza Real deve ser considerado como uma providência inteiramente funesta aos

interesses Nacionais de ambos os Hemisférios. Não, não é a glória de

possuir um Príncipe da Dinastia Reinante, que obriga o Povo a clamar pela sua

residência no Brasil à vista do mesmo Decreto, que o chama além do Atlântico:

nós perderíamos com lágrimas de Saudade esta glória, que acontecimentos

imprevistos, e misteriosamente combinados nos trouxeram, abrindo entre nós uma

época, que parecia não estar marcada pela providência nos nossos Fastos, e ao

mesmo tempo fazendo a emancipação do Brasil justamente na idade, em que possuído

da indisputável idéia de suas forças, começava a erguer o colo para repelir

o sistema Colonial; mas a perda desta Augusta Posse é igualmente a perda da

segurança, e da prosperidade deste rico, e vastíssimo Continente; ainda avançamos

a dizer respeitosamente, que esta perda terá uma influência mui imediata sobre

os destinos da Monarquia em geral. Se os Políticos da Europa maravilhados pela

Resolução de Sua Majestade o Senhor Dom João Vi em passar-se ao Brasil

realizando o projeto, que os Holandeses conceberam quando Luís IV trovejava às

portas de Amsterdam, que Filipe V tinha na idéia quando a fortuna o ameaçava

de entregar a Espanha ao seu rival, que o ilustre Pombal premeditava quando o

Trono da Monarquia parecia ir descer aos abismos abertos pelo terremotos, que

Cados IV já mui tarde desejou realizar; sim se os Políticos disseram que o

Navio que trouxe ao Brasil o Senhor D. João Vi alcançaria entre os antigos

Gregos maiores honras do que esse, que levou Jason e os Argonautas a Colcos, o

Povo do Rio de Janeiro julga que o Navio que reconduzir Sua Alteza Real aparecerá

sobre o Tejo com o Pavilhão da Independência do Brasil.



Talvez

que Sua majestade Criando o Senhor D. Pedro, Príncipe Regente do Brasil tivesse

diante dos olhos estas linhas traçadas pelo célebre Mr. Du-Pradt "Si le

passage du Roi n'avait eu lieu, le Portugal perdait le Brésil de deux maniéres,

1. par l'attaque qú eu auraiente fait les Angiais sous pretexte de guerre avec

le Portugal soumis aux Français; 2. par I'Independance dans Ia quelle ce grand

Pays separe de Ia Métropole par la guerre ne paurait manquer de tomber, comme

ont fait les Colonies Espagnoles, et para la même raison, et avec le même succés.

Aussi est il bien evident que si jamais le Souverain établi au Brésil repasse

en Portugal il laisserá derriére lui I'Independance établie dans les

comptoirs de Rio de Janeiro." - Se a passagem do Rei se não verificasse,

Portugal perdia o Brasil por dois modos, primeiro por ataque que fariam os

Ingleses com o pretexto de guerra com Portugal submetido aos Franceses; segundo

pela independência, que infalivelmente este grande País separado da Metrópole

pela guerra proclamaria, como fizeram as Américas Espanholas com a mesma razão,

e com o mesmo sucesso. É logo bem evidente que se algum dia o Soberano

estabelecido no Brasil voltar para Portugal, deixará após de Si a Independência

firmada em todas as feitorias do Rio de Janeiro. Conhece-se qual é o estado de

oscilação, e de divergência, em que estão todas as Províncias do Brasil; o

único centro para onde parece que se encaminham suas vistas, e suas esperanças

é a Constituição, e a primeira vantagem, que se espera deste plano

regenerador é a conservação inalienável das atribuições, de que se acha de

posse esta antiga Colônia transformada em Monarquia; menos para autorizar a

residência do Augusto Chefe da Nação, do que pelo grande peso, que o seu Comércio

de exportação lhe dava na balança mercantil da Europa, pelas suas diferentes

relações com os diversos Povos desse antigo Hemisfério, e pelo progressivo

desenvolvimento de suas forças físicas, e morais.



O

Brasil conservado na sua Categoria, nunca perderá de vista as idéias de seu

respeito para com a sua ilustre, e antiga Metrópole, nunca se lembrará de

romper esta cadeia de amizade, e de honra, que deve ligar os dois Continentes

através da mesma extenção dos mares que o separam; e a Europa verá com

espanto, que se o espaço de duas mil léguas, foi julgado mui logo para

conservar em vigor os laços do Reino Unido, sendo o fiador desta união um frágil

lenho, batido pelas ondas, e exposto às contingências da Navegação; este

mesmo espaço nunca será capaz de afrouxar os vínculos de nossa aliança, nem

impedirá que o Brasil vá ao longe com mais alegria, com a mão mais cheia de

riquezas, do que ia dantes, engrossar a grande artéria da Nação.



O

Povo do Rio de Janeiro conhecendo bem, que estes são os sentimentos de seus

co-irmãos Brasileiros protesta à face das Nações pelo desejo que tem de ver

realizada esta união tão necessária, e tão indispensável para consolidar as

bases da prosperidade Nacional: entretanto o mais Augusto penhor da

infalibilidade destes sentimentos é a Pessoa do Príncipe real no Brasil,

porque nele reside a grande idéia de toda aptidão para o desempenho destes

planos, como o primeiro vingador do sistema Constitucional. As Províncias do

Brasil aparecendo nas pessoas dos seus Deputados em roda do Trono do Príncipe

Regente formaram uma liga de interesses comuns, dirigindo sempre a marcha das

suas providências segundo a perspectiva das circunstâncias, sendo um dos seus

objetos de empenho estreitar mais e mais os vínculos de nossa Fraternidade

Nacional.



Se

o motivo que as Cortes apresentaram para fazerem regressar Sua Alteza Real é a

necessidade de instrução de economia Política, que o Mesmo Senhor deve

adquirir viajando pelas Cortes da Europa assinadas no Decreto, o Povo julga que

se faz mais necessário para a futura glória do Brasil, que Sua Alteza Real

visite o interior deste vastíssimo Continente desconhecido na Europa

Portuguesa, e por desgraça nossa examinado, conhecido, descrito, despojado

pelas Nações Estranjeiras, em cujas Cartas, como ultimamente na de Mr. La Pie,

nós com vergonha vamos procurar as Latitudes, e as Longitudes das Províncias

centrais, a direção dos seus grandes rios, e a sua posição geográfica, os

justos limites, que as separam umas das outras, e até conhecer a sua capacidade

para as riquezas de agricultura pela influência das diversas superfícies, que

elas oferecem.



Portugal

considerando o Brasil como um País, que só lhe era útil pela exportação do

ouro, e de outros gêneros com que ele paga o que importam os Estrangeiros,

esquecendo-se que esta mesma exportação era resultado mais das forças Físicas

do Brasil, do que de estímulo das Artes de indústria comprimidas pelo mortífero

sistema Colonial, e abandonadas a uma cega rotina não se dignou em tempo algum

entrar no exame deste Continente, nunca lançou os olhos sobre o seu termômetro

político, e moral, para conhecer a altura em que estava a opinião pública, e

bem mostra agora pela indiferença com que se anuncia a seu respeito: é

portanto de primeira necessidade que o Príncipe Regente dê este passo tão

vantajoso para maior desenvolvimento da vida moral, e física do Brasil.
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Mensagem por Bruno Sáb Jan 10, 2009 3:46 am

As

Cortes da Europa hoje decaídas daquele esplendor, que elas apresentavam em

outras épocas ainda conservam grandes Sábios, famosos políticos, porém estas

classes se consideram mudas, e paralisadas pelas diversas facções, que as

combatem com uma prepotência irresistivel: Sua Alteza Real não encontrará

hoje nelas mais do que intrigas diplomáticas, mistérios cabalísticos, pretensões,

ideais, projetos efêmeros, partidos ameaçadores, a moral pública por toda a

parte corrompida, os Liceus das Artes, e das Ciências na mais miserável

prostituição, uma política cega concebendo, e abortando, em uma palavra Sua

Alteza Real achará em toda a Europa vestígios desse vulcão, que rebentando ao

Meio Dia levou estragos além das Ilhas, e dos Mares. Não, não foi em crises tão

fatais, que viajaram o Imortal Criador do império da Rússia Pedro Primeiro, e

o grande filho de Maria Tereza José Segundo, assim como outros Príncipes, que

voltaram aos seus Estados enriquecidos de conhecimentos, que fizeram a

prosperidade de suas Monarquias. Depois que o interesse passou a ser, como diz o

Abade Condillac, a mola Real dos Gabinetes da Europa, a Política começou a

esconder sua marcha, e quase sempre as idéias ostensivas são inteiramente

diversas daquelas, que aparecem nos planos das negociações. É bem de esperar

que o Príncipe Herdeiro de uma Monarquia olhada hoje com ciúme pelas Nações

Estrangeiras não seja admitido a comunicação dos seus mistérios Eleusinos,

que veja as novas Tiros, e Cartagos só pela perspectiva de sua economia pública,

e que se faça todo o empenho para desviar da conhecida agudeza de seu Engenho a

Carta dos interesses Ministeriais.



Nas

províncias do Brasil Sua Alteza Real achará um Povo, que o adora, e que

suspira pela sua presença: nas mais polidas encontrará homens de talentos, bem

dignos de serem admitidos ao seu Conselho, em outras achará a experiência dos

velhos, que o Discípulo de Xenofonte encontrou nas bocas do Nilo; conhecerá de

perto as forças locais deste imenso País, em cujo seio ainda virgem, como diz

o célebre Mr. de Sismondi se podem perfilhar as plantações, que nutrem o

orgulho das margens do Indo, do Ganges, da antiga Taprobana, e que obrigam o

altivo Adamastor a se embravecer tantas vezes contra os Europeus. Os Povos

experimentaram estes estímulos de estusiasmo, e de brio, que inspira a presença

criadora de um Príncipe; sobre todas as vantagens enfim; Sua alteza Real terá

uma que não é pequena, conhecer por Si mesmo a herança de Sua Soberania, e não

pelas informações dos Governadores, que tudo acham inculto, atrasado, com obstáculos

dificultosos, ou invencíveis para se desculparem assim de sua inação, ou para

depois mostrarem em grande mapa colorido o pouco que fizeram, deixando entre as

sombras as concussões violentíssimas, que sofreram as vítimas de seu

despotismo. Tal é a idéia que o nosso insigne Vieira oferece em suas Cartas

quando analisa a conduta destes Régulos de bastão e ferro, praga tão funesta

ao Brasil, ou ainda mais, do que o mesmo sistema Colonial.



Sendo

pois esta viagem de tão grandes consequências para o progressivo melhoramento

do Brasil, fica demonstrada a sua importância, e sua necessidade; os

conhecimentos adquiridos por Sua Alteza Real sendo confrontados com os votos

daqueles, que possuem a verdadeira estatística do Brasil servirão muito para

organizarem o plano do regime que deve animar a sua vida física, e moral.





uma distância mui considerável entre o Meio Dia da Europa, e o Meio Dia da América;

a Natureza humana aqui experimenta uma mudança sensível, um novo Céu, e por

isso mesmo uma nova influência sobre o caráter de seus indivíduos; é impossível

que Povos classificados em oposição física se possam reunir debaixo do mesmo

sistema de governo; a Industria, a Agricultura, as Artes em geral exigem no

Brasil uma Legislação particular, e as bases deste novo Código devem ser esboçadas

sobre os locais, onde depois hão de ir ter sua execução. Se o Brasil

agrilhoado em sua infância, e com



mui

poucas homenagens na sua mocidade avançou rapidamente através das mesmas

barreiras, que tolhiam sua marcha, quanto não avançará depois de ser

visitado, e perfeitamente conhecido pelo Príncipe Herdeiro da Monarquia, que na

sua passagem verá a justiça que se lhe fez tirando-se-lhe as argolas

Coloniais, e dando-se-lhe o Diadema? O Povo do Rio de Janeiro tendo em vista o

desempenho deste projeto verdadeiramente filantrópico, e conhecendo que Sua

Alteza Real anuncia o mais energético entusiasmo em realizá-lo com grande

vantagem da Nação em geral, não pode portanto convir no seu regresso, e

julgando que tem dito quanto basta para que V.S. faça ver a Sua Alteza Real a

delicadeza com que o Mesmo Senhor se deverá haver nas circunstância já ameaçadoras

no horizonte político do Brasil, espera ser atendido na sua representação, de

cujas consequências (não o sendo) o mesmo Povo declara V.S. responsável-,

igualmente espera que o Soberano Congresso a receba, e a considere como um

manifesto da vontade de in-nãos Interessados na prosperidade geral da Nação,

no renovo de sua mocidade, e de sua glória, que sem dúvida não chegará ao

Zenith, a que espera subir se não estabelecer uma só medida para os interesses

recíprocos dos dois Hemisférios, atendendo sempre às diversas posições

locais de um, e outro. Sendo portanto de esperar, que todas as Províncias do

Brasil se reunam neste centro de idéias, logo que se espalhe a lisonjeira notícia

de que se não verificou o regresso de Sua Alteza Real, o Povo encarrega a V.S.

de fazer ver ao mesmo Senhor a absoluta necessidade de ficarem por agora

suspensos os dois decretos 124, e 125 das Cortes, porque não se pode presumir

das públicas intenções do Soberano Congresso, que deixe de aceder a motivos tão

justos, e de tão grandes relações com o bem geral da Nação. Rio de Janeiro,

em 29 de dezembro de 1821.
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